Não Pagamos! A análise de risco é um risco
Está confirmado! Pior do que ser um fdp é ser pai de uma PPP! Só no sector rodoviário o buraco pode chegar aos 9 mil milhões de euros. As PPP são mecanismos complexos e algo opacos em que é difícil perceber se é ou não vantajoso para o Estado um corte abrupto de despesas com as PPP, ou mesmo a sua privatização. Duas das maiores justificações para as derrapagens são a ausência de estudos, que suportassem a decisão de as concretizar, e a inflação das estimativas para os volumes de utilização e/ou níveis de serviço necessários a garantir.
Temos entidades privadas que, ingenuamente e num acto de fé, acreditaram piamente nos números facultados pelo Estado (não confundir com encomendados) para justificar a necessidade e viabilidade o investimento de milhares de milhões de Euros. O Estado não age com um driver lucrativo, procura sim o progresso e desenvolvimento do país.
Muitas vezes até não terá em funções governativas, e decisivas, as pessoas com as melhores capacidades. Já as entidades privadas só pretendem uma coisa: o lucro, se possível com garantia de mama a longo prazo.
São essas entidades que têm a obrigação de contratar os melhores gestores, os melhores analistas de risco, os melhores estrategas, que lhes permitam apostar o seu capital em apostas seguras e viáveis. O preço de um bom gestor é alto. Bons gestores são caros mas compensam o investimento. Um bom gestor não seria ludibriado por estudos adulterados, um bom gestor saberia analisar os factores de risco crítico e blindar o projecto contra decisões amadoras de governantes menos capazes ou mesmo menos honestos. Ao confirmar-se a conivência de grandes gestores com grandes incompetências governamentais fico com a ideia de que há muitos gestores caros simplesmente porque o preço da alma está upa upa.
Para ajudar à festa temos advogados e consultores que dançam em negociações das PPPs entre a defesa dos interesses do Estado e a defesa de entidades privadas, elementos pertencentes a antigos governos que ao sair passam a exercer altos cargos nas entidades que beneficiaram de grandes PPPs com rendimento garantido por décadas.
Tudo isto cheira mal porque está podre.
Está na altura dos gestores perceberem que nós compreendemos que não fizeram bem o seu trabalho e que a sua análise de risco ‘ignorou’ um risco que pode fazê-los perder muito dinheiro. O risco de surgirem governantes com níveis de ética, honestidade e justiça que os levem a anular ou renegociar brutalmente as PPPs lesivas para o Estado actualmente em curso. O facto dos antigos governantes, decisores, serem mestres nas artes da fantasia e da fábula não significa que todo um povo deva ser perpetuamente prejudicado porque os gestores de entidades privadas fingiram acreditar nas histórias das carochinas.
Está na altura de sermos sérios. Custe o que custar. Doa a quem doer.
O mesmo se aplica aos credores internacionais. Outro embuste com rating AAA. Os milhares de milhões de euros que nos foram emprestados no passado, e de cujos juros somos agora reféns, podem ser usados como chicote em vez de garrote estrangulador. Porque quem nos emprestou o dinheiro nunca fez uma análise de risco apurada para perceber 1) que vão fazer com tanto dinheiro!? 2) vão ser capazes de nos pagar de volta?
Aparentemente os casos denunciados de corrupção, desvios, esbanjamento foram meros fait divers. Os nossos credores só se preocuparam em garantir que parte do empréstimo fosse devolvido quase de imediato, em negócios de contra-partidas, e em que continuássemos com dependência externa em vários sectores. Desde que sejamos bons pagadores o dinheiro pode jorrar.
Quando no cenário actual o não pagamento dos juros de dívida poderia ser um grande elemento de estabilidade porque não exigi-lo para podermos pensar em mais do que pôr o pão na mesa? Um período de carência, de um ou dois anos, em que nem pagávamos dívida nem recebíamos mais empréstimos. Uma reflexão sobre tudo o que foi mal feito. Uma reestruturação tranquila que não se assemelhe a tiros no escuro, a soluções não estudadas, a amputações desesperadas para evitar septicemia e hemorragias maiores. O fim deste tapar de buracos com medo do risco sistémico que uma entidade possa ter sem considerar o risco sistémico que é ter milhões de portugueses sem poder de compra nem apoio social.
Ironicamente um simples não pagamos pode ser o caminho para voltarmos a ser honestos, íntegros e justos.
PS – este post deu-me tamanhas securas que vou beber um copo de água enquanto posso!
Posted on Junho 24, 2013, in Ideias para o País. Bookmark the permalink. Deixe um comentário.
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