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Bacamarte – o novo LDG
Como sempre, a critica pela crítica, a maledicência infundada são regra entre nós. Já há quem critique a generosidade do nosso Ministério da Defesa Nacional. Inacreditável! Refiro-me obviamente à magnifica perspectiva de compra de um navio logístico, o Siroco. Este segundo e ultimo navio da classe Foudre é um prodígio da tecnologia. Apenas as mais modernas e sofisticadas Nações terão alguma vez acesso a este tipo de equipamentos – A França que os vende, nós e o Chile. É realmente triste que os nossos concidadãos não consigam reconhecer uma boa oportunidade quando a têm perante os olhos.
Um sonho que se ajustou aos tempos, uma ideia que se comprovou válida. Senão não teríamos chegado a este solene momento. É indiscutível a importância estratégica desta opção. Seria um disparate investir no desenvolvimento de Corvetas para patrulhar a nossa Zona Económica Exclusiva, seria um absurdo dar continuidade aos programas de modernização das nossas Fragatas. Haja rumo.
Obviamente que o país necessita de um Porta-Aviões, mas como não podemos viver acima das nossas possibilidades, contentar-nos-íamos com um Navio de Assalto. Talvez um Mistral. Mas, até para sonhar é necessário responsabilidade e sentido de estado. Assim, e porque a Nação não pretende assaltar ninguém (no exterior), talvez seja melhor comprar um Navio Logístico. Além disso, o assalto aos portugueses não requer nenhum equipamento em especial. É consentido.
A preços de mercado, um Mistral custa 600 milhões (€). Está certo que seria novo em folha, mas tinha o inconveniente dos manuais de instrução na língua de Tolstoi. É verdade que num Mistral sempre dava para operar os famosos EH-101 da FAP, mas esse é outro facto que me revolta na critica – a atenção a pormenores sem importância. Os Merlin não cabem no Siroco? Ok, não tem problema, não temos os Alouette III? Cabem perfeitamente! (esqueçam lá os Sud Aviation PUMA, esses é para fingir que nunca existiram, ok?)
Apesar de a Marinha já não ter asas, tem os Super Lynx. Se as Fragatas vão ficar acostadas, já não necessitam de helicópteros para nada. Podemos até comprar, sei lá, F35B aos inquilinos das Lajes. E blindados? É verdade que podíamos também comprar uns blindados modernos, talvez austríacos, mas devemos ser realistas e dizer “Alto” – é um navio logístico, não é de assalto!
O Siroco pode ainda ser útil em acções de apoio humanitário. Por exemplo nas Ilhas Selvagens! De que outra forma poderíamos salvar as populações das Selvagens? Por fim, o derradeiro argumento: No ano passado, a Marinha abateu a ultima Lancha de Desembarque Grande (LDG), Bacamarte de seu nome. Eis o substituto.
Decididamente uma oportunidade a não perder. Apenas 80 milhões (€) por um navio que é de uma eficiência de custo inquestionável, cuja utilidade estratégica fala por si, e cujos benefícios para toda a população são tão evidentes (que se torna irrelevante referi-los), é pechincha! Deixemos as “más-línguas” entregues ao seu próprio veneno. Ignoremos a impertinente pergunta “porque é que a França o abateu ao efectivo?”. Não merece resposta.
D’armas Imobiliária, SMI
Zé, a guiar, foi à biblioteca e descobriu um livro. Percebeu nesse instante: “é por aqui” – Compreendeu estar perante uma das mais importantes obras da nossa história militar – o Livro das Fortalezas, da autoria de Duarte d’Armas, obra Manuelina que descreve e ilustra pormenorizadamente as 56 fortificações que no inicio do século XVI defendiam a raia.
A descoberta não poderia ser mais oportuna. Consta que existem por aí uns equipamentos porreiros, a bom preço. Há peixes voadores dinamarqueses e até a hipótese de uma estreia absoluta, o nosso primeiro anfíbio para salvarmos o arquipélago das Selvagens. Preocupado? Calma, nada como vimos no passado. Desta feita os processos serão conduzidos sem ajuda de consultores ou especialistas em financiamentos. Então? Há dinheiro para a entrada, o resto será a prestações. Mas há dinheiro em caixa? Não, mas há património. Vendam-se as fortalezas! Ficam umas da raia, e vendem-se umas quantas no litoral, sem qualquer interesse estratégico militar. O Castelo do Queijo, por exemplo.
Serenidade é preciso. Quem diz vender, diz arrendar, concessionar. Assim, compramos os novos equipamentos, mas os amigos mais empreendedores não terão que desembolsar verbas por ai além significativas. E aos incautos o estado pode sempre garantir que não vendeu os anéis. Claro, também poderá ocorrer uma ou outra permuta, mas nada que prejudique o património. São decisores sérios, jamais aceitarão qualquer permuta que não seja vantajosa para a nação. Empreender sim, mas não à custa do estado. Nunca tal entre nós aconteceu! Os jornalistas sérios e íntegros não deixam, e os contribuintes também não.
Aquele cujo apelido designa todas as cores do espectro óptico, garante que por cá há juízo e gente séria, não somos como outros países, onde precocemente se celebra a democracia, mas onde falta dinheiro para a manutenção dos equipamentos militares. Nós não, nós não somos nem corruptos nem incompetentes. Muito menos mentirosos. Ao invés do passado recente, são os outros que tremem.
Espião no Sado
Um Golfinho russo, camuflado de Roaz-corvineiro, violou a interdição de pesca no interior da Marina de Tróia. O Ministério da Defesa Nacional emitiu um comunicado, esclarecendo que não chegou a accionar os meios navais da Atlantic Ferries, pois o intruso foi escoltado até Sesimbra pelas Tainhas residentes na Marina…
ZEE 2115
A França, terra da liberdade, igualdade e fraternidade, vendeu à Russia dois navios da classe Mistral. Nicolas Sarkozy anunciou o negócio no final de 2010, e os contratos foram assinados no inicio de 2011. Os estaleiros STX France cobraram 1,2 mil milhões de euros pelos dois porta-helicópteros. Apenas 20% mais caros do que os submarinos da classe Tridente que compramos à alemã Ferrostaal. Convêm salientar que o preço não inclui os 16 helicópteros, nem os 40 blindados que cada navio pode transportar. Não houve contrapartidas, nem ajudas. Conseguiram fechar o negócio sem o precioso auxílio duma Escom lá do sítio.
Em Junho deste ano, os norte-americanos manifestaram duvidas quanto à conformidade da primeira entrega com as sanções (entretanto) impostas à Rússia. Propõem a venda ou aluguer destes navios à NATO. França diz que não. O cancelamento é caro, porque os russos já pagaram, e para além disso quer alemães quer britânicos têm vendido armas à Rússia. O secretário-geral da NATO, o dinamarquês Fogh Rasmussen é peremptório – a decisão compete à França. Em Julho, François Hollande anunciou a entrega do “Vladivostok” dentro do prazo (Outubro de 2014), mas qual abstenção violenta, condicionou a entrega do “Sevastopol” à evolução da situação na Ucrânia. Uma posição surpreendentemente lusitana: uma no cravo, outra na ferradura. Apesar de pouco solidário, foi fraternal… Entretanto, a guarnição russa do navio chegou a França. Os testes no cais começaram no dia 6 de Julho, mas antes do inicio dos testes de mar, o volte-face – Hollande anunciou ontem o cancelamento da entrega do primeiro navio. Parece que alguém na NATO ficará com ele. Resta saber quem.
A meu ver, ninguém no ocidente pode acusar a França de inconsistência. É certo que mudou de posição em pouco tempo, mas essa parece ser a prática vigente. Há menos de um ano, o programa nuclear do Irão era uma questão bélica e Bashar al-Assad era a personificação do mal na Síria. São dinâmicas da geopolítica. Hoje, parece que Teerão apenas quer a tecnologia nuclear para fins energéticos e al-Assad é quase (quase) um aliado. Afinal há mesmo terroristas por aquelas bandas. Por cá também, dizem. Exportamos, garantem. Tudo a bem do equilíbrio da balança comercial. Não percam os próximos episódios, o tema promete.
E os navios, quem fica com os navios? Tenho uma teoria, certamente presunçosa, mas julgo que fundamentada: Está para breve o alargamento da nossa Zona Económica Exclusiva; somos o membro da NATO com maior tradição marítima; temos a Escola Naval mais antiga do mundo; ampla experiência no leasing de equipamento militar e claro, somos um povo com uma natureza profundamente voluntária.
Julgo chegado o momento para a concretização de um sonho, o “N.R.P. Fénix“. Será provavelmente adicionado ao efectivo da nossa Marinha, talvez já em 2015. Além do nome de baptismo, passe a imodéstia, proponho o indicativo visual. Na amura ler-se-á “ZEE 2115”, numa tripla alusão a quem vai pagar o aluguer (o Zé), ao ano da ultima prestação, e claro à Zona Económica Exclusiva (ZEE). Talvez seja desta… Bem sei que não será um porta-aviões, nem foi construído em Portugal, mas é um principio!
Aguiar Branco, Estaleiro ao Fundo
Viana do Castelo está a agitar as águas. Novamente Aguiar Branco em grande forma no centro da polémica. Estranho a pressa em desfazer-se dos Estaleiros Navais de Viana do Castelo (ENVC). Justifica com condicionantes europeias que obrigam à circunstância. Já o presidente da câmara de Viana do Castelo deu hoje uma entrevista revelando ter falado com o comissário europeu para a concorrência e que este, embaraçado, lhe confessou não ter tido qualquer contato da parte do governo português sobre o tema.
A pressa é tal que se levantam dúvidas sobre a capacidade do vencedor da subconcessão em levar o estaleiro a bom porto. Por outro lado o vencedor traça um futuro brilhante e risonho aos ENVC sob a sua gestão. A Martifer garante ter garantias de contratos regulares e resolver o problema do Lusitânia imediatamente. Devem ter especialistas com fortes conhecimentos na área da advocacia, capazes de deitar por terra a argumentação utilizada para cancelamento do contrato, desatando o nó em falta nos nós da velocidade! Se assim for os estaleiros podem ser a bóia de salvação da Martifer e vice-versa! O mundo pode ser um local maravilhoso.
Os trabalhadores, indignados, gritam por injeção dos milhões previstos para a liquidação, sob a forma de investimento a fim de modernizar os meios de produção. Segundo eles a empresa tem viabilidade e só não estão a produzir mais porque a gestão assim não o quis ao longo dos anos.
Nem me vou colocar a fazer contas sobre se o Estado é beneficiado ou prejudicado, tendo em conta os valores envolvidos e as consequências em termos sociais que terão de ser amparadas pelo Estado. Agora aquilo que rapidamente me vem à memória, apenas derivado de leituras corriqueiras de revistas de informação, é o seguinte:
- O Canal do Panamá vai ser alargado;
- A Europa procura promover o transporte fluvial;
- A Nicarágua projeta um novo canal a cortar a América do Sul;
- Estão a abrir novas rotas marítimas no Ártico;
- O setor dos Cruzeiros está em crescimento constante;
- O cluster do mar ainda está por explorar devidamente em Portugal;
- As exportações Portuguesas estão imparáveis;
- Quando a crise se desvanecer (está para breve, está para breve) será natural o crescimento das importações;
Tudo isto são fortes indicadores de que o sector naval estará em crescimento, não só em volume de navios como em envergadura dos mesmos e frequência de uso. Será inevitável o aumento de encomendas de construção a nível mundial bem como a procura de serviços de manutenção. (Falem com o nosso país irmão! Pode ser que caiam umas migalhas como sucedeu com nuestros hermanos.)

Portugal tem todas as condições, em termos de localização dos seus portos, para ser uma opção privilegiada na contratação destes tipos de serviços. Para tal apenas teremos de ter capacidade instalada disponível e know-how adequado. Ou seja, os ENVC não são uma pedra no sapato mas sim uma pérola para o futuro a médio prazo. Por exemplo caiu por terra o argumento que os ENVC assegurariam à Marinha de Guerra Portuguesa a capacidade instalada desactivada no Arsenal do Alfeite. Agora a Armada não tem capacidade, nem autonomia, transformando-se num cliente seguro a longo prazo.
Dá-me a sensação que nos últimos anos andaram a embaçar a pérola para ser vendida como bugiganga em condições vantajosas para o comprador. É inegável o valor e potencial dos estaleiros em si. O questionável será certamente a gestão dos mesmos ao longo destas décadas. Com muita influência política.
Pelo que, tendo em conta a pechincha que é ter dois ou três administradores dos ENVC, recomendaria talvez um volte-face surpreendente em que o estado roubaria à Martifer os dois ou três gestores que já desenharam a solução milagrosa e ficava o assunto arrumado. Desde que parte da solução não passe por esquemas manhosos como por exemplo:
- Despedir todos os trabalhadores dos ENVC e extinguir os mesmos;
- Criar nova empresa para recomeçar com registo limpo e realizar processo de recrutamento de 1/3 dos trabalhadores despedidos, beneficiando da concorrência directa de pessoas com o know-how necessário, desperadas e desorientadas pela perspectiva de perder emprego, estando mais receptivas à baixa considerável de salários;
- Beneficiar das várias condições de incentivo ao emprego ao recrutar colaboradores que se enquadram nos cenários definidos.
Porque isto para além de um excelente acto de gestão, engenharia financeira e reestruturação de recursos humanos seria um escandaloso cambalacho e chulanço aos parcos apoios sociais do estado.
E isso é coisa que o nosso governo certamente classificaria de intolerável, CERTO?
Voltar às Bases – Serviço Militar Obrigatório
O buzz do momento é o revivalismo dos cantares revolucionários. O “Grândola Vila Morena” cantado simbolicamente no parlamento e nos eventos onde participam membros do governo. Evoca a revolução dos cravos que apesar de ter tido essa canção como parte da banda sonora foi executada e perpetuada por operações militares. Faz toda a diferença a troca de uma letra em canÇão para canHão. Uma diferença capaz de ganhar batalhas.
Temos milhões de desempregados, milhões de Portugueses à espera de dias melhores. A descrença reina. Os mais espevitados abalam para outros países. Os que ficam marinam numa sopa social indefinida, sem uma concreta definição do seu sentido de orientação e da sua capacidade concretizadora de reais mudanças.
Com um mercado de emprego estagnado há cada vez mais magotes de jovens a sair do seu percurso escolar ou académico com entrada directa no marasmo e falta de oportunidades.
Olhando para toda esta conjuntura e para o recente anúncio de cortes nas despesas militares atrevi-me a pensar num movimento contrário. No final do meu percurso académico fui à inspecção militar obrigatória e ‘escapei’ ao serviço por ter já um contrato assinado para iniciar carreira profissional. Nessa altura o mercado estava ávido de mão de obra qualificada e absorvia praticamente todas as fornadas que saiam das Universidades. Cumprir o serviço militar obrigatório era visto como algo tedioso, um verdadeiro empecilho ao futuro.
Nesta altura isso não se verifica. Não há mercado. E também se perderam muitos valores e muita gana. Já lá vão as gerações offline. As gerações que passavam mais tempo na rua do que na net. As gerações que ao brincar suavam, sujavam, lutavam, choravam e amadureciam um pouco mais rápido. Agora caminhamos para os seres digitais. Alimentados a centenas de canais de TV, a milhares de jogos de computadores/consolas, a smartphones, a relações à distância cada um na segurança e conforto do seu quarto ou de uma redoma bem montada a dar ares de total liberdade e arbitrariedade. As gerações de hoje revolucionam nas redes sociais, deslumbradas com o volume de likes, assinantes de petições e minutos acumulados em reportagens relâmpago nos telejornais. Mas perderam o contacto directo com a Terra, deixou de se sentir com frequência o choque e solidez de uma violenta queda ao solo, deixou de haver a necessidade constante de superação perante condições adversas surgidas do nada e sem ponto de fuga possível. A descrença antes de ser nacional é pessoal. Uma pessoa foi formada toda a vida num ambiente propício para ser X e não crê que possa facilmente ser Y, Z ou XPTO.
E por isso, neste momento particular, parece-me que o serviço militar obrigatório poderia ser uma boa forma de servir de continuidade à formação pessoal dos homens e mulheres após final do percurso escolar ou académico. Sendo uma fusão de treino militar com escola de ofícios, aumentando a auto-estima dos seus formandos bem como desenvolvendo-lhes novas valências e competências. Uma recruta militar que obrigue os seus formandos a viver mais tempo no mundo offline, a explorar os seus limites físicos e mentais, a cooperar com tudo e todos sem hipótese de fuga para o coito mais próximo.
Em termos de fundos, necessários para concretizar a logística deste programa, poderia ser feito o desvio de verbas aos programas de apoio a jovens desempregados. Para cortar na despesa, e ao mesmo tempo servir de acção formadora, muitas das tarefas ‘domésticas’ e de manutenção seriam executadas pelos próprios, inclusive o cultivo hortícola para o máximo de auto-suficiência. No fundo existiria uma deslocalização de parte das acções de formação para os quartéis. O aumento de consumo de bens como fardas, calçado, alimentos, etc, seria também um incentivo a alguns sectores nacionais que se assumiriam como fornecedores destes novos polos de consumo. Seria um meio de injecção de capital na economia de uma forma distribuída ao invés de concentrá-lo em empresas prestadoras de serviços, como acontece actualmente com muitas acções de formação em que por vezes parece mais importante zelar pelos interesses do prestador do serviço do que pelos interesses reais para os formandos e para o país.
Para concluir não queria deixar de notar que na maior parte dos casos vejo que quem fala do serviço militar cumprido fá-lo com uma certa nostalgia de bons velhos tempos e com orgulho da superação de obstáculos tendo sido um período marcante na lapidação da sua personalidade. Mais, vejo-lhes uma centelha de quem já fez coisas complicadas e estaria preparado para o fazer novamente se assim fosse preciso. Perdido por 1 perdido por 1000.
E esta centelha seria o principal ganho para o país. O de transformar uma manada de insatisfação submissa num enxame de operativos capazes de iniciativa real sem necessidade de grandes holofotes. Homens e mulheres confiantes na sua capacidade de sobrevivência perante qualquer adversidade. Custaria bem menos do que dois submarinos. Seria tão mais produtivo para Portugal. Ter um governo perfeitamente ciente que a maioria da população dispõe das capacidades necessárias para mudar usando as canções meramente como música de fundo.
Para quem naturalmente vá ter fortes anticorpos a esta ideia ‘retro’ só lhes queria lembrar que uma outra canção foi usada na revolução. Pensando em quem disse ou vai dizer adeus ao emprego, adeus à casa, adeus à família, adeus ao país ou simplesmente adeus à vida deixo-a aqui porque também ela é história apesar de menos querida pelos revolucionários.







