Author Archives: José Bessa

VOLTA-FACE! STOP.

A

Bravuras que um povo olvida.

 

Volta-Face! STOP-Moncorvo e a guerra Fantástica de 1762

 

Quando o capitão chegava trepidante ao cimo do morro era como um clangor e o Zêi, como lhe chamava, parava a freima da pastorícia e antes que ele posicionasse a mão Napoleónica no colete já corria desbarretando-se «às ordens do Sr. Capitão».

Imobilizada a montada «aííí…», duma mansidão que o seu ventre dilatado aceitava sem grandes ondulações, o castrense tonitroava comandando:

– Bom dia Zêi! Então não me alinhaste as ovelhas?

Era assim Sebastião de Azinheiro Carvalho e Assumpção, terratenente, capitão de cavalaria graduado e colocado em reserva antecipada pelo regimento de Cavalaria de Estremoz, mas no activo, e nas suas quintas. Da sua esposa, melhor dizendo, que o capitão era de antiga e mui nobre família de armas, servidora do reino na Guerra Fantástica e por isso, detentora de lustrosas salvas de prata e ornamentada com vasta medalhagem (embora patinada, como adiante se assestará para registo), mas sem terras conhecidas como suas, além da Pátria.

– Não senhor, senhor capitão, são umas desordenadas!… Mesmo assobiando aos rafeiros um toque a reunir elas não alinham, não senhor…

O ardor de comando e da ordem-unida estava-lhe no sangue e vinha-lhe de seu tetravô (investiga-se ainda, por indeterminação segura de datas, se pentavô); um façanhudo alferes de infantaria que se dera, por razões de entendimento nas diversas movimentações de tropas, com um oficial vindo das Índias Orientais, um tal Robert McNamara, que, olhe, quem sabe… isto das coincidências históricas são realidades tão antigas como hoje estarmos aqui e termos tantos compatriotas de olho azul. Bem, tamanho foi o entendimento que, ao que se sabe, não foi disparado um tiro, alinhada uma alabarda nem arreado um cavalo para que a guerra efectivamente se efectivasse. Razão pela qual se pensa o seu nome não constar nos anais heroicos de tão importante conflito, mas o do estrangeiro sim!, que nós, para os nossos somos uns desagradecidos mas para os de fora são as ondas que se têm visto.

No entanto e ressalve-se, ambos combateram, se assim se pode dizer, na Guerra Fantástica, desenrolada (é o termo certo) em mais de metade do ano de Mil Setecentos e Sessenta e Dois, e bem se lhe pode chamar “fantástica”, pois só em dois casos dois, que se saiba, o povo Português ganhou uma guerra sem que se disparasse um tiro. Duzentos e doze anos depois, secundava-se a façanha.

Seria injusto e incompleto se não se elogiasse aqui também a sua metade, que o era, não só de cara mas de alma e corpo inteiro; Senhora Dona Maria do Carmo Bentes, essa santa de famílias gradas, verdadeiro refrigério dos humores e impulsos do capitão que, ao contrário do que possa parecer pelo que se disse ou dirá, tinha um coração onde cabia o Mundo e sobejava espaço.

Pois a Senhora Dona Maria do Carmo era dos “Bentes” (você deve conhecer…) de Boticas, ali para os lados de Chaves, seu tetravô, os nossos respeitos, servira em infantaria e na mesma guerra que o avô de seu sogro (ou bisavô, é o tal alvitre), ambos participando nas movimentações Alentejanas, durante as quais, após assertivos posicionamentos e, temendo acusações de bastardia, acabou casando com a sua irmã mais nova, uma solteirona até à data. (irmã do futuro cunhado, entenda-se).

Fora um gesto bonito, e, veja como são as coisas; são portanto primos a Senhora Dona Maria do Carmo e o Sr. Capitão de Azinheiro Carvalho e Assumpção.

Era vê-lo galhardo, montado naquele cavalo inteiro dum ruço cardão, «comandando um pelotão de infantaria marchando de Chaves para a Torre de Moncorvo», lia-se na chapinha dum quadro que descansava as telas fendidas ao lado da cristaleira à mão direita quem entra na ampla sala de jantar e onde se via um outro, mais rendado e pequeno, num alinhamento que punha a jeito uma moça airosa, acenando adeuses com um lenço de saudades. Era sua tetravó, Deus haja, que se despedia.

Que quadros, que figuras, que história, quanta memória vertida aos vindouros que saberão, é uma certeza, enaltecê-la, quem sabe em versos, dando-nos o merecido épico pelos acontecimentos decorridos. Oxalá…

É nesses vindouros que uma família confia e nesta, estava depositada em Sebastião de Azinheiro Carvalho e Assumpção Júnior, primogénito, e até ver, único do casal de quem se fala, a esperança no que se espera.

 

Continua para “B” (com a licença de vosselência)

 

(sobre a figura: Moncorvo e a guerra Fantástica de 1762

In Cartografia Histórica Portuguesa – Catálogo de Manuscritos (Siglos XVII-XVIII)

Real Academia de la Historia Madrid)

O Mundo num Porta-Chaves

No princípio dos tempos (porque já foi há muito tempo) saiu-me num “fura” de cinco tostões, um porta-chaves. Um porta-chaves que era nada mais que… O Mundo!

Vejam a minha sorte. Por um nada (o que eram cinco centavos?…) deram-me o Mundo.

Venderam-mo, é certo, mas pelo valor que foi… entendi-o oferecido.

Guardei-o no bolso da camisa, local que no momento me pareceu mais seguro, mesmo do lado esquerdo, ao lado do coração. Segui saindo, continuando o passeio daquela tarde, já merendado e com o Mundo no bolso. Segui vivendo mil vidas e outros tantos caminhos sem nunca mais me lembrar dele, do Mundo.

Encontrei-o há uns meses, repousando numa gaveta de velharias e recordações, no meio de tudo quanto é quinquilharia e “outros mundos”, que o são, ainda, as recordações de outras deambulações.

Peguei-o, limpei-lhe o pó, poli-o, curiosamente na camisa, do lado do coração, e meti-o no bolso das calças para lhe encontrar uso corrente. Aquele Mundo ia encontrar umas chaves que abririam portas, ia encontrar utilidade, era a “sua hora”.

Sabendo que o leitor não está familiarizado com estes objectos, irá permitir que lhos descreva.

O Mundo, este, um porta-chaves singular, é composto de duas partes, sendo, o Hemisfério Sul e o Hemisfério Norte unidos num macho/fêmea de pouca tenacidade (o que me levou, e espero não leve a mal, a cola-los de forma a que nunca mais se separem); como, chamemos-lhes “elementos de utilidade”, tem uma corrente solidamente atarraxada no Hemisfério Norte (por perfuração do Pólo) e, nos antípodas, um moitão onde se aprisionarão as chaves.

Não querendo subalternizar o Mundo, será certo que a importância do conjunto será depositada nas chaves que abrirão as portas e não o que significa a esfera na outra extremidade, e nem mesmo a corrente que com engenho a aprisiona. Com efeito, mesmo as chaves, embora segredos em si mesmas, serão doravante também arrastadas para a figura de meras gazuas uma vez que o importante é “o local” que abrirão, e mesmo este, numa escala de valores materialista, será apenas o espaço que contem “a coisa” de valor.

A “coisa”, o que são as coisas… será portanto o actor principal desta história a que eu, “pomposamente” chamarei vida, uma vez que é, a razão de ser.

O Mundo num Porta-Chaves

O leitor não se apercebeu, mas entre a linha anterior e esta, fui lá fora pensar (e quanto um homem se põem a pensar…). Não é “pomposamente”! A vida é a razão de existir e, a razão de existir embora não saibamos muito bem qual é, tem pompa. E tem circunstância. Por isso, desculpe as aspas, que se manterão por honestidade de quem lhe escreve, e para que não diga que dou o dito por não dito.

Concluamos que, a razão de existir do meu porta-chaves (no seu todo) é manter a vida, o Ser. Melhor dizendo, dispor da vida, uma vez que a abre e fecha quando quer, a mostra e a oculta a seu “bel-prazer”, a oferece ou sonega como bem entende… pomposamente.

(aqui, neste pomposamente, é que talvez ficassem bem as aspas, porque sem “as mãos” não passará dum mero destroço. Mas deixemos as mãos para mais tarde.)

O motivo de o incomodar com esta leitura, e certamente pedir-lhe ajuda é, nem mais nem menos, a confusão que se alojou no meu discernimento quanto ao relacionamento, direi até, interacção, entre Mundo e vida, corrijo, Mundo e Vida.

Sendo habitante do civilizado Hemisfério Norte, e contemplando o meu porta-chaves encontro logo algo que me entristece. É que à medida que o Mundo vai rodando, a corrente que o aprisiona vai-lhe desgastando os desenhos e até, amachucando a superfície; por isso, o Hemisfério que habito está necessitando duma pintura urgente e quem sabe até, dumas marteladas para o desempenar. Enfim coisas que deixarei para alguém especializado, porque nisto de endireitar o Mundo e pinta-lo reluzente não há falta de candidatos.

Perdoe-me o desabafo; não é isso que aqui nos traz.

Continuando com a analogia, e antes que vá embora, gostava de lhe dizer para que servem as chaves. Uma vez que já subentendeu que a corrente e respectivo moitão existem apenas para que o Mundo não se separe delas, nunca. Está agarrado!

Uma abre as portas do cofre, que faz os homens ricos,

Outra abre a do conhecimento, que faz os homens sábios,

Outra a da humildade, que faz os homens Grandes.

Sabemos ambos que a vida não é só estas três coisitas, mas, de momento são as chaves que temos (como vê, até as partilho consigo) para tentarmos viver com mais agrado.

Não me obrigue a dissertar sobre a felicidade pois não se sabe ainda o que significa e, na tentativa costumeira dos Portugueses em explicar o inexplicável, resultaria na sua infelicidade imediata, coisa que, pelo respeito que me merece, nunca farei.

Dizia eu que… temos três chaves apenas e, com elas poderemos ser, ricos sábios e grandes.

Continuo a utilizar o plural sendo minha intenção partilhar (ou compartilhar, como queira) o resultado da minha/nossa acção.

Está nas nossas mãos o equilíbrio, para que não fiquemos:

– Ricos, mas estúpidos e pequenos,

– Sábios, mas inanes e nada, ou

– Grandes, mas ignorantes disso e mais uma vez, delapidados.

E é precisamente aqui que eu peço a sua ajuda. Conto consigo?

Um Dia o Sol Foi Meu

AVISO:

1º Um dia o sol foi meu! Que não haja dúvida!

2º O Sol que vos ilumina só é astro rei para os sub-lunares. Que sois vós.

3º O sol que aqui trataremos foi rei um dia e sê-lo-á sempre. Coisa impossível para outros sóis. Até as estrelas morrem; fazem puf…

4º O que aqui será dito é inteiramente verdade, factualmente e cronologicamente. Salvo aquilo que se entende, e pretende, como criação.

5º À criação tudo é permitido. Até mesmo colocar o Sol em movimento rotativo, como já aconteceu.

6º Para quem tem a tendência, porque os há, de por tudo em causa; mesmo aquilo que

d-escrevo; fica-lhes aqui a orientação remetida para o ponto 1º deste aviso.

 

SOL para-'Um Dia o Sol Foi Meu'

Fiat Lux!

 

Com a chegada das andorinhas partiam os compinchas. Os afazeres domésticos agendados, alguns, desde as últimas férias grandes, tornavam os meus amigos mais atarefados que em tempo de aulas. Estávamos em férias grandes. Era uma freima.

Naquele ano, não sei porquê, os meus dois compinchas habituais estavam mais ausentes ainda. Ajudaram-me a levar o papel à farrapeira, algumas coboiadas, alguns pontapés na bola, umas idas à bouça e, murchou. O Mário parece que tinha ido visitar os seus familiares Galegos e o Júlio… o Júlio, olhem nem sei; mas que faltava à chamada habitual assobiada de cima do muro, faltava. Agora fiquei intrigado, porque faltou nesse ano?… Hei-de perguntar…

Tenho mesmo de saber porque nesse ano nem me ajudaram a arrumar a garagem.

Por isso andei por ali… não tinha irmãos, os meus primos já olhavam prá sombra das raparigas, e para elas mesmo parece-me, mas isso são outras conversas; a garagem estava ali… para ser arrumada… mas, também dali não saía… pintei as grades da varanda do jardim, lubrifiquei os estores com massa consistente, fiz uns recados, mas… Como se diria hoje, uma baita duma seca.

As únicas saídas que tinha, ali por perto, eram alguma entrega leve a uma cliente ou uma ida à farmácia. Sempre rápido, ia numa sandália e vinha noutra.

Foi numa ida à farmácia, mais precisamente numa vinda, que tudo mudou ao ser interrompido pelo meu tio Jerónimo de saída para não tenho nada com isso, Olá Zé, Olá tio, Está tudo bem lá em casa? Muito obrigado está sim senhor, E a tia como tem passado? Bem, para onde vais?

Vou agora mesmo para casa que venho da farmácia e… A avó está doente? Não senhor está tudo bem, Então vamos os dois, que eu quero falar com a tua mãe.

Com-a-mi-nha-mãe? Qé que eu fiz?

Olá Fernanda, Olá Jerónimo, Então tudo bem? (duas vezes), eu vinha cá convidar o zézito, se você deixar, para ir almoçar lá a casa, pode ser? Pode, quando? Agora, daqui a bocado. Então Zé agrada-te a ideia? Pode ser, obrigado. Ó Fernanda, levo então mais uma laranjada para o rapaz e ele assim vai já comigo.

Porta-te bem!

As mães, de todo o Mundo, deviam saber que os filhos só se portam mal em casa, em frente delas e dos respectivos maridos. Na casa dos outros são uns “anjinhos”, toda a gente sabe disso! Mas nunca resistem a envergonhar as crianças, que se sabem portar lindamente, com o inevitável; “porta-te bem”…

Tipo… ai… mete-me uns nervos…

Apresento-vos o casal, antes do almoço, senão vocês não percebem patavina do que estou para aqui a dizer. Se tiverem dúvidas perguntem. E não se façam convidados.

O meu tio Jerónimo era casado com a minha tia Laurinda, alguns de vocês conheceram, mas os mais novos não sabem como eram simpáticos e simples esses nossos tios (falo para vocês primos). Se há casais que deixam saudades pelas suas meiguices ao longo da vida este foi um deles, é por isso que, embora fossem também vossos tios, os trato assim, possessivamente.

A nossa família pode falar assim, possessivamente, de muitos tios. Conheci muitos e sei do que falo. Daremos tios de posse também, tenho a certeza.

Nem me lembro do conduto, o que se tratou no “almoço de trabalho” foi aeronáutica, e falemos disso. Vocês sabem como eu gosto de ser aéreo…

Ó tia, prometo que vos vou dedicar um tempinho, que bem merecem, para que esta meninada saiba quem foram, mas agora tratamos de engenharias, de construções, de elevações aos céus, de viagens e outros voos. Depois tia; está prometido.

Ó tio então e onde arranjo canas? Na Quinta da Pícua? Papel de seda tenho o da escola, goma-arábica arranjo na loja, fio peço à tia Alice, Não dá? Fio do Norte? Ó… isso só na drogaria; vou ao mealheiro. Rabo? Qé isso? Ah… para dar estabilidade… e o tamanho? Não! O rabo já sei. O tamanho do sol? Metro e meio? Mas… metro e meio é mais que minha altura!…

Vou arranjar as coisas e depois venho cá, domingo já devo ter as canas; depois venho cá.

Até me esqueci das despedidas, saltei as escadas, degraus dois em dois, olá prima Lurdes, até logo primo Albano e isto é segredo meu, construção clandestina Los Alamos de Águas-Santas, aeronáutica experimental em construção amadora, Alto! E o fio do norte, mas como é que vou arranjar dinheiro para comprar dois rolos de fio de norte?…

Na tarde combinada, estando os materiais devidamente aprovisionados e conferidos em quantidade e qualidade, iniciaram-se os trabalhos no hangar a que também se dava serventia de cozinha.

A simetria dos raios, seu comprimento e furação, a amarração central com precisão de bobinagem e a fixação das pontas das canas (da Índia por exigência), fizeram o conjunto aeronáutico duma limpeza que, ficamos certos, ao voar, o escoamento laminar perfeito impediria a perda imediata de sustentação. Nascia um aerodino.

Continuamos na célula. A fuselagem é tão importante quanto a estrutura.

A colagem dos gomos foi feita com um cuidado meticuloso de puzzle sendo o pincel muitas vezes introduzido de viés aperfeiçoando uma união já consolidada. As pontas das canas sendo boleadas exigiram um remate especial. As cores do papel de seda, em alternância, davam ao conjunto, um garrido que se assemelhava à alegria dos construtores de aeronaves.

Que bonito…

Antes de nós um construtor de aeronaves a sério tinha dito: – Se for bonito, voará bem!

Era o caso. Voará bem…

E eu, ainda de mãos pegajosas de goma-arábica e dedos golpeados da caça às canas tinha sido parte da aventura, era quase, é bom que se saiba para que me olhem com conveniência, engenheiro aeronáutico.

Na verdade fui mais assistente de engenharia, mais dá-cá-isso, de vez em quando chegamisso e finalmente chega-rebos, uma vez que no fim do rabo estava projectada e recebeu competente instalação, um saco com uma pedra que, poderia variar a massa em função das necessidades aerodinâmicas. Mas quem escolheu a massa fui eu!

Um Primor! Uma construção Mimosa!

Era a hora do lanche. Leite com torradas que até me está a crescer água na boca…

Ó tio, podíamos ir agora!

Não, vamos deixar secar e amanhã se estiver Sol vamos lançar o sol para a Caverneira.

Esteve Sol!

As operações não se resumiam a uns meros 10, 9, 8… e por aí fora até ao lift off…

Nada disso! Muito mais complicado, muito mais saber, muito mais engenho.

Estávamos na Caverneira! Isso de Canaverais é para amadores.

Briefing ao equipamento:

SOL – Ok,

RABO – OK (massa colocada e bloqueada),

AMARRAÇÃO – verificada e centrada,

FIO – livre e pronto a esticar,

VENTO – de frente, firme e estável,

MOTORES…

(não sei se os que me lêem sabem como se descola um sol. Se não sabem perguntem aos mais velhos e deixem de ser engraçadinhos OK?)

– Firmes!

A pista foi escolhida tendo em conta a orientação do vento e as condições do terreno, exigências técnicas que presentearam os aeronautas com uma vista lindíssima sobre o Mundo; que nos observava.

(quem conhece sabe que a vista da bouça (que ainda existe como tal) mesmo ao lado da Associação Recreativa os Restauradores do Brás-Oleiro é das mais bonitas do Mundo.)

O vento barlava suave de Setentrião, lado do bom tempo… corre!… corre mais… Mais!

Ergueu-se o aparelho em vida colorida, serpenteava o rabo em danças de dragão asiático, bamboleava a pedra ameaçando quem se intrometesse. Que beleza!…

A pilotagem era feita de coração ao pulos, como a alegria, rodopiou algumas vezes o astro mas sempre firme no seu querer de subir, que galhardia.

Durou que tempo? Minutos? Segundos? Horas não, mas o que é o tempo? Que importância é que isso tem! Ainda dura.

Até que soprou o Zéfiro regressado dos seus trabalhos equídeos. E regressou forte. Não foi cisalhamento mas uma faca que surgiu. O enfiamento perfeito, a subida firme, a postura airosa antes desta rajada, resultaram numa vrille descontrolada até às copas mais altas dos eucaliptos.

O que faz um piloto quando a sua aeronave cai?

Eu caí de joelhos. Chorei. Chorei olhando o arco-íris que o sol fazia entre a mais alta copa da bouça e os meus olhos. Nunca mais esqueci aquela luz. Passando lá, mesmo à noite, ainda a vejo.

A luz dum sonho que se eterniza.

 

(imagem retirada de http://garatujando.blogs.sapo.pt/arquivo/591638.html)