O Mundo num Porta-Chaves
No princípio dos tempos (porque já foi há muito tempo) saiu-me num “fura” de cinco tostões, um porta-chaves. Um porta-chaves que era nada mais que… O Mundo!
Vejam a minha sorte. Por um nada (o que eram cinco centavos?…) deram-me o Mundo.
Venderam-mo, é certo, mas pelo valor que foi… entendi-o oferecido.
Guardei-o no bolso da camisa, local que no momento me pareceu mais seguro, mesmo do lado esquerdo, ao lado do coração. Segui saindo, continuando o passeio daquela tarde, já merendado e com o Mundo no bolso. Segui vivendo mil vidas e outros tantos caminhos sem nunca mais me lembrar dele, do Mundo.
Encontrei-o há uns meses, repousando numa gaveta de velharias e recordações, no meio de tudo quanto é quinquilharia e “outros mundos”, que o são, ainda, as recordações de outras deambulações.
Peguei-o, limpei-lhe o pó, poli-o, curiosamente na camisa, do lado do coração, e meti-o no bolso das calças para lhe encontrar uso corrente. Aquele Mundo ia encontrar umas chaves que abririam portas, ia encontrar utilidade, era a “sua hora”.
Sabendo que o leitor não está familiarizado com estes objectos, irá permitir que lhos descreva.
O Mundo, este, um porta-chaves singular, é composto de duas partes, sendo, o Hemisfério Sul e o Hemisfério Norte unidos num macho/fêmea de pouca tenacidade (o que me levou, e espero não leve a mal, a cola-los de forma a que nunca mais se separem); como, chamemos-lhes “elementos de utilidade”, tem uma corrente solidamente atarraxada no Hemisfério Norte (por perfuração do Pólo) e, nos antípodas, um moitão onde se aprisionarão as chaves.
Não querendo subalternizar o Mundo, será certo que a importância do conjunto será depositada nas chaves que abrirão as portas e não o que significa a esfera na outra extremidade, e nem mesmo a corrente que com engenho a aprisiona. Com efeito, mesmo as chaves, embora segredos em si mesmas, serão doravante também arrastadas para a figura de meras gazuas uma vez que o importante é “o local” que abrirão, e mesmo este, numa escala de valores materialista, será apenas o espaço que contem “a coisa” de valor.
A “coisa”, o que são as coisas… será portanto o actor principal desta história a que eu, “pomposamente” chamarei vida, uma vez que é, a razão de ser.
O leitor não se apercebeu, mas entre a linha anterior e esta, fui lá fora pensar (e quanto um homem se põem a pensar…). Não é “pomposamente”! A vida é a razão de existir e, a razão de existir embora não saibamos muito bem qual é, tem pompa. E tem circunstância. Por isso, desculpe as aspas, que se manterão por honestidade de quem lhe escreve, e para que não diga que dou o dito por não dito.
Concluamos que, a razão de existir do meu porta-chaves (no seu todo) é manter a vida, o Ser. Melhor dizendo, dispor da vida, uma vez que a abre e fecha quando quer, a mostra e a oculta a seu “bel-prazer”, a oferece ou sonega como bem entende… pomposamente.
(aqui, neste pomposamente, é que talvez ficassem bem as aspas, porque sem “as mãos” não passará dum mero destroço. Mas deixemos as mãos para mais tarde.)
O motivo de o incomodar com esta leitura, e certamente pedir-lhe ajuda é, nem mais nem menos, a confusão que se alojou no meu discernimento quanto ao relacionamento, direi até, interacção, entre Mundo e vida, corrijo, Mundo e Vida.
Sendo habitante do civilizado Hemisfério Norte, e contemplando o meu porta-chaves encontro logo algo que me entristece. É que à medida que o Mundo vai rodando, a corrente que o aprisiona vai-lhe desgastando os desenhos e até, amachucando a superfície; por isso, o Hemisfério que habito está necessitando duma pintura urgente e quem sabe até, dumas marteladas para o desempenar. Enfim coisas que deixarei para alguém especializado, porque nisto de endireitar o Mundo e pinta-lo reluzente não há falta de candidatos.
Perdoe-me o desabafo; não é isso que aqui nos traz.
Continuando com a analogia, e antes que vá embora, gostava de lhe dizer para que servem as chaves. Uma vez que já subentendeu que a corrente e respectivo moitão existem apenas para que o Mundo não se separe delas, nunca. Está agarrado!
Uma abre as portas do cofre, que faz os homens ricos,
Outra abre a do conhecimento, que faz os homens sábios,
Outra a da humildade, que faz os homens Grandes.
Sabemos ambos que a vida não é só estas três coisitas, mas, de momento são as chaves que temos (como vê, até as partilho consigo) para tentarmos viver com mais agrado.
Não me obrigue a dissertar sobre a felicidade pois não se sabe ainda o que significa e, na tentativa costumeira dos Portugueses em explicar o inexplicável, resultaria na sua infelicidade imediata, coisa que, pelo respeito que me merece, nunca farei.
Dizia eu que… temos três chaves apenas e, com elas poderemos ser, ricos sábios e grandes.
Continuo a utilizar o plural sendo minha intenção partilhar (ou compartilhar, como queira) o resultado da minha/nossa acção.
Está nas nossas mãos o equilíbrio, para que não fiquemos:
– Ricos, mas estúpidos e pequenos,
– Sábios, mas inanes e nada, ou
– Grandes, mas ignorantes disso e mais uma vez, delapidados.
E é precisamente aqui que eu peço a sua ajuda. Conto consigo?
Posted on Maio 10, 2014, in Ideias para o País and tagged Cidadania, Democracia, Revolução. Bookmark the permalink. 3 comentários.
Gostei e estou pronto a colaborar com as chaves que abrem o Conhecimento e a Humildade.
Mas para quê abrir cofres e fazer homens ricos que sempre (ou quase) não se tornam Sábios nem Grandes que é o que interessa ao mundo?
Bom dia Rui Moura da Silva. Agradeço ter-me lido, e comentado.
Sim, o “vil metal”…
Entendo o “metal” como coisa inerte, meio de pagamento, instrumento de troca de coisas. Coisa.
Vil, é, a cobiça, a imoralidade, a falta de ética, a impunidade e, por isso, vil, é o seu utilizador.
Enfim, coisas que não são novidade histórica nem actual.
Entendo também que é com riqueza, não com opulência, e nunca com pobreza!; que o Mundo “pula e avança” e, claro, também com o indispensável sonho que é um bom rumo. (e, quem sabe até, com a tentativa da utopia).
Um abraço de amizade.
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