COFFINamento precário
Quem se atreveria a prever que desde Março de 2020, até final da Páscoa de 2021, iríamos estar mais de 150 dias em regime de isolamento forçado? O objectivo seria o de impedir o colapso do sistema de saúde, coisa nunca vista em Portugal, e uma avalanche de mortes.
Dos 5 milhões de população activa menos de 700 mil puderam trabalhar em teletrabalho. Cerca de 90 mil terão perdido os empregos de forma directa. Os restantes 4 milhões picos lá tiveram de continuar as suas deslocações para cumprir o serviços das empresas em funções. Felizmente não sofremos a dizimação dessa população, das forças de segurança, dos transportes, do sector primário, da construção, do comércio, da indústria e serviços por si garantidos! Só pode ter sido protecção divina pois várias vezes entrei em estabelecimentos de rompante apanhando os colaboradores em círculo próximo de amena cavaqueira sem máscaras, vi trabalhadores de construção civil a borrifar em todas as medidas, ouvi relatos dos transportes apinhados e cruzei-me em ruas e comércio com a maioria das pessoas a usar máscaras com nariz de fora. Claramente andámos todos num faz de conta para nos deixarmos em tranquilidade mútua. Um confinamento à portuguesa para fazer brilharete nos noticiários cujos jornalistas também eles devem estar ausentes do que se passa no terreno.
Em Novembro de 2020 a malha apertou, todas as actividades não essenciais fecharam portas e tivemos mais de um mês de verdadeira reclusão, para quebrar cadeias de transmissão e extinguir a carga viral em circulação. No final de Dezembro projectava-se que os portugueses estavam “limpinhos” depois de tanta responsabilidade e sacrifício. Surpresa das surpresas, os afectos de Natal e Ano Novo ressuscitaram a pandemia a níveis nunca antes sentidos em Portugal, com o Janeiro mais negro dos últimos 12 anos (o que até não é mau se consideramos que o INE tem séries estatísticas fiáveis desde 1960). O resultado foi mais uma terapia de choque doméstico até tudo acalmar. Demorou três meses.
Onde estaríamos sem o confinamento? Variados estudos em vários países indicam que nem muito melhor nem muito pior, simplesmente não pode ser feita uma correlação forte entre essas medidas e as melhoras dos resultados. São os sacanas dos dados que o dizem! Nos USA, a comparação entre estados adjacentes, uns com conformidade total com medidas, outros que nunca aplicaram as medidas são esclarecedores sobre a ineficácia das mesmas em termos de benefícios directos significativos. Além da Suécia temos na Europa o caso da Bielorrúsia, que apresenta das mais baixas taxas de morte, sem nunca ter confinado.
Além dos efeitos inevitáveis do COVID o confinamento acrescentou, além da destruição económica indiscutível, a morte de milhões e sérios efeitos na saúde mental da humanidade. Mesmo no combate ao COVID existem epidemiologistas reconhecidos a alertar para o estar a fazer-se tudo errado, potenciando-se doença e surtos sucessivos.
Demos o benefício da dúvida, cumprimos com resiliência, vamos agora desfrutar a retoma da liberdade, com a certeza de que, em caso de nova situação alarmante, o confinamento não é de todo a solução, podendo ser poupado o sofrimento adicional por si gerado. Exijamos decisões futuras com base no conhecimento adquirido à custa de muitos e irrecuperáveis dias de privação social e familiar.
É a lição que espero termos aprendido nesta reclusão forçada.
Posted on Maio 6, 2021, in Ideias para o Mundo, Ideias para o País and tagged confinamento, covid19, desconfinamento. Bookmark the permalink. Deixe um comentário.
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