Última Hora: Indesmentível e factual
Uma importante investigação jornalística acabou de ser divulgada, gerando grande polémica e espanto entre todos os telespectadores. Os factos são indesmentíveis e foram finalmente divulgados pelos meios de comunicação. As novas tecnologias tiveram um papel preponderante na condução da ciosa investigação, tendo permitido obter provas irrefutáveis dos factos apurados e confirmados pelas fontes anónimas, as quais permitem hoje afirmar com total certeza e convicção que a última hora terminou exactamente sessenta minutos após o seu início.
Eis o exemplo de conteúdo bem-sucedido nas redes sociais. Nem sequer precisa de ser mentira, basta dizer “Última Hora”, ser ilustrado com um rosto conhecido ou polémico, conter ambiguidade quanto baste e claro, repleto de suspeição e mistério. No fim, pode até não dizer nada. A mera ilusão de que algo de grave será revelado é suficiente para despertar a curiosidade do internauta, seja ele ou ela, perspicaz ou denso de processo cognitivo. Somos uma espécie fácil de pescar online, com a agravante do isco ser abundante e por isso acessível a todos.
Nos últimos tempos têm-nos tentado convencer que o problema reside nas chamadas notícias falsas, mentiras torpes que ameaçam um mundo paradisíaco e que nunca até aqui tinha sido palco de qualquer forma de manipulação. Revelam-nos até milagrosos planos de prevenção e combate a esta terrível ameaça ao equilíbrio do planeta. Devemos desconfiar desta nova embalagem da (julgada) extinta censura? Talvez, mas antes de aderir à teoria da conspiração, uma singela, quiçá inocente, pergunta: O problema está nos emissores ou nos receptores?
Posted on Janeiro 2, 2017, in Escárnio e mal-dizer, Ideias para o Mundo, Mentalidade Tuga, Programas de Televisão, Teorias da Conspiração and tagged Consumo, Humor, Internet, Portugal. Bookmark the permalink. 3 comentários.
É um jogo de espelhos. O receptor está (estupidamente) ávido de “emoções”; o emissor, para reter a atenção do receptor, carrega na “emoção”(em competição, para sobreviver, com os outros emissores); a seguir o receptor já só responde se houver esse incremento de “emoção”; … e entramos assim numa espiral descendente para o enorme “buraco negro da cretinice”.
A Pós Verdade que Sousa Tavares afirma. Estamos a viver a época da Pós verdade através das redes sociais. Coloca-se uma mentira no FB ou noutra rede qualquer, o visado não sabe sequer de que o acusam e quando desmente já ninguém o ouve nem acredita. E pronto. Se disserem que roubou, ele passa a ser o Zé ladrão e mais nada.
O problema está tanto nos emissores como nos receptores. Os receptores são passivos e desprovidos de crítica. Os emissores entregaram-se à notícia sem valor jornalístico, à desinformação, aos temas brejeiros.