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Queira-se ou não, as jornadas mundiais da juventude impressionam pela sua capacidade de mobilização de uma juventude muito diferente da frequentemente estéreotipada. Sem vestígios de álcool, drogas nem hormônios produzidos via orgasmos sexuais, a energia e júbilo contínuo advêm da mais pura comunhão e oração colectiva.

Apesar de se divertirem como os outros jovens, em cantoria, dança e alguns excessos, a verdade é que quando são submetidos ao teste do microfone, num voxpop em directo, sabem articular frases e expressar sentimentos com um efeito inspirador pelo seu centro no amor, fraternidade e compaixão.

A sua vibração positiva contrasta e abafa a maior parte do ódio e ressabianço que precedeu o evento, desde os artistas de renome que se revelaram oportunistas na execução de acções “artísticas” parolas, aos discursos populistas baseados em jogo de números contabílisticos de investimento sem contrabalanço do seu retorno.

Além da requalificação de uma nova zona da cidade, de imprimir em centenas de milhares de visitantes o desejo de voltar para uma visita com menos agenda, a JMJ conseguiu ainda outros grandes feitos!

  1. A absolvição das multas até 1.000€ a todos os jovens prevaricadores! Como sabemos muitas destas multas são obra do demo, cujos arautos são instruídos para períodos de caça à multa, doa a quem doer. Pelo que agradeçamos a justiça da sua anulação por benção divina.
  2. O enaltecer da função dos transportes públicos. Foi aumentada a oferta e frequência mas mesmo assim os peregrinos estão a sentir o que é o dia-a-dia da hora de ponta em Lisboa. Até poderão relativizar o relatório das vítimas de abusos sexuais na Igreja Portuguesa, mas estes transportes, que desafiam a densidade de massa corporal por m2, irão deixar marcas inesquecíveis e uma mescla de suor e odor que poderá até, momentaneamente, colocar em causa a própria identidade.
  3. A resolução do problema das pessoas em situação de sem abrigo em Lisboa. (PSSA) Não por acção camarária, governamental ou presidencial mas sim pela alta concentração de caridade. Segundo o último censo oficial existiam 400 PSSA em Lisboa, ora durante uma semana circulam nas ruas perto de 1 milhão de devotos, o que quer dizer se apenas 10% deles praticarem o simples e purificador acto de dar esmola a quem necessita, considerando um valor médio de 1€, podemos estar a falar de cem mil euros de esmolas por dia, o que poderá perfazer 1 Milhão de Euros de esmolas numa semana! Dividindo por 400 teremos uma média 2.500€ para cada PSSA, o que permitirá alugar um quartito durante pelo menos um ano.
  4. Reforço da linha de conciliação e reparação para com as vítimas de abuso. Ao bom estilo português o assunto estava tranquilamente a ser recolocado debaixo do tapete, com afirmações de altos representantes do clero nacional a desvalorizar o teor e gravidade dos relatórios realizados. Revelando-se um bom CIO, na gestão da reputação da sua instituição, o Papa força peremptoriamente que os gestores intermédios assumam as suas responsabilidades e resolvam os problemas que criaram.
  5. Transformação de Carlos Moedas: de idiota irritante em tótó adorável. Há que saber apreciar a mestria humorística com que foi debelando todos os ataques aos investimentos feitos pela autarquia e até o vídeo Tik Tok que fez de resposta ao novo Bordalo. Ri-se de e com quem o ataca, sinaliza ouvir mas borrifa de alto, levando as coisas avante como entende. Faz-me lembrar um mix de Mr. Bean e Topo Gigio, non-sense e fofo. Este homem tem futuro mais não seja pelo emanar de um ar de não perigosidade.
  6. Poupar milhões na distribuição gratuita de perservativos! Que seria praticamente obrigatória em eventos que reunem esta faixa etária, como acontece por exemplo nas Olímpiadas.

Certamente haverão mais pontos positivos mas deixo-os para a zona de comentários. Faço votos de que tudo corra bem e de que o Papa sobreviva ao maior perigo para a sua integridade física, as manifestações de afecto de Marcelo Rebelo de Sousa. Sinceramente, aquele chocalhar de braços à chegada fez-me lembrar uma fatality saída do Mortal Kombat. Tenha cuidado que o homem é santo mas não é de ferro, Sr. Presidente!

Imagem fictícia gerada por MidJourney

Programa de Imobilidade Urbana

Sou um dos novos prisioneiros rodoviários de Lisboa, venho aqui reclamar das condições da clausura que me é imposta. Como me encontro nesta condição? Também para mim é um mistério. Como muitos era um honesto cidadão, cumpridor de horário rodoviário fora de ponta, sair de casa às 07h30m para fazer um trajecto de 30km entre a zona oeste e a zona do Saldanha, era coisa para demorar 30 minutos. Fui de férias de Verão, retornando em meados de Setembro, constatando que esses 30 minutos se multiplicaram por 2x ou por 3x, não excepcionalmente, é a nova norma.

Inicialmente dei o benefício da dúvida, são obras de curta duração, só que à medida que as estas são terminadas, sendo comidas uma ou duas faixas de rodagem em vários segmentos da Avenida da República, percebo que o novo constrangimento veio para ficar. Não consigo sequer dormir à noite com pesadelos sobre o agravamento que será imposto pelas intempéries de Inverno.

Outros efeitos colaterais são o embrutecimento e entristecimento das gentes, condutores que deixam de dar passagem, que stressam, praguejam e gesticulam muito mais, passageiros apáticos ao longo das paragens de autocarro, e quebras de produtividade nas empresas com atrasos ‘justificados’ e ânimos quebrados antes sequer de ser iniciada a labuta do dia.

Da câmara chega-nos um discurso do querer criar novos espaços, mais agradáveis à circulação pedonal, do querer diminuir o tráfego para e na cidade, do promover o uso de transportes públicos. Faz sentido, sobretudo se criassem as condições para a transferência das pessoas, dos carros para transportes de qualidade, antes da execução de medidas que quebram totalmente a actual dinâmica de mobilidade urbana. Certamente que não serão transportes públicos com equipamentos ultrapassados, sub-dimensionados e em agonia que teriam capacidade de resposta caso se desse uma rápida transição de condutores para passageiros.

Mais sentido faria uma política agressiva de promoção da habitabilidade. Nos anos 60-70 Lisboa chegou a ter 800 mil habitantes, hoje ronda os 550 mil, com mais de 425 mil pessoas vindas dos subúrbios que se deslocam diariamente para trabalhar ou estudar. O que quer dizer que, se fosse comportável, centenas de milhares de pessoas estariam dispostas a viver em Lisboa, reforçando aquilo que deveria ser, uma cidade lusa. Seria a recuperação de uma vida citadina na sua plenitude social, menos artificial e turística, com muito menos viaturas circulantes. Pelo que talvez a melhor resolução fosse a transferência do alojamento de turistas para os subúrbios, de onde poderiam ser servidos com transportes rápidos e de qualidade numa rede de muito menor dimensão do que aquela que seria necessária para transportar trabalhadores e estudantes.

É nisto que penso ao ficar retido no programa de imobilidade urbana em curso. Que direcção toma esta Lisboa que se formata pensando na exploração do veio turístico ao invés de promover a habitabilidade? Pretenderá perder o título de cidade capital para se tornar um cada vez melhor parque de entretenimento urbano?

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