Eleições Palhacianas

Eleicoes-Palhacianas

Após visualização de uma série de debates entre candidatos presidenciais, nos dois formatos, a dois, um contra um, e a três ou mais,  nenhum contra nenhum, bem como dos tempos de antena e peças jornalísticas de acompanhamento de campanha, não consigo identificar um claro outsider em quem se possa votar para abanar o sistema.

Ainda predominam os peixes de aquário partidário que procuram relembrar ao eleitorado as responsabilidades políticas de partidos da oposição ou beliscar o carácter e idoneidade de cada um dos restantes peixes de aquário.

Temos depois delatores da corrupção e más políticas vigentes que advogam querer limpar o país e impor a correcção da trajectória estratégica nacional.

Por fim temos a versão madura dos outrora famosos batedores de punho, um terá utilizado a força de punho para calcetar Portugal, outro é pregador dessa corrente punheteira que requer altos níveis de motivação e confiança. Ambos apostam na popularização do argumentário procurando desconstruir complexas situações políticas em dizeres simples e claros.

À partida quereríamos que a cada um fosse dedicado espaço equivalente nos media, a fim de eliminar qualquer suspeita de favorecimentos. No entanto depois de ver alguma da pobreza de ideias e de discurso sou obrigado a reconhecer que isso seria muito mais prejudicial a estas eleições do que a situação desigual actual.

Isto acontece ou porque a qualidade do candidato é deplorável ou porque o candidato não parece saber a que cargo se candidata, que responsabilidades lhe seriam conferidas nem sequer quais as fronteiras dos poderes que lhe seriam instituídos.

Por um lado é positivo que candidatos extra-partidários consigam entrar na corrida, por outro é assustador que alguns deles sejam nitidamente medíocres e tenham mesmo assim conseguido o apoio suficiente para a candidatura. Sinal de que grande porção dos eleitores não faz a mínima noção da importância e relevância dos mais altos cargos da nação, supondo que se pode dar ao luxo de, numa brincadeira eleitoral, eleger o mais boçal e/ou idiota dos candidatos. Esta derivação do poder para um emergente desconhecido deve ser um tiro certeiro confiado a quem demonstra carácter e capacidade. Caso contrário será um tiro de pólvora seca que funcionará como um tiro pela culatra já que a inoperância de uma chico-espertice incapaz, e possíveis danos ao país por ela causados, criarão a ilusão de que os anteriores maus políticos são apesar de tudo a melhor solução possível.

Espero que os políticos saibam ler nestes sinais duas coisas. A primeira é a de que as rédeas do poder estão fugir-lhes das mãos, para novas forças políticas, novos movimentos de cidadania. A segunda é a de que se não apostarem na formação e educação dos Portugueses, no conhecimento e valorização da sua própria democracia, essa passagem corre o risco de ser uma catástrofe anunciada, por mais divertida e inócua que aparente ser.

Sugiro também adicionar um simples filtro para garantir o enquadramento dos candidatos ao cargo a que se propõem. Um questionário que afira o seu conhecimento sobre a história recente de Portugal, sobre os deveres, poderes e limitações de um mandato presidencial, e sobretudo sobre as diferenças existentes entre o papel de Presidente da República e o de Primeiro Ministro. Quem não sabe ao que vai escusa de aparecer.

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About Nuno Faria

Nascido em 1977, informático por formação, vegano por convicção, permacultor por transformação. Desde cedo que observo e escuto atentamente, remoo pensamento até por fim verbalizar a minha opinião e entendimento, integrando o que faz sentido do que é argumentado por quem de mim discorda. Não sei como aconteceu mas quando dei por mim escrevia sobre temas polémicos, tentando encontrar e percorrer o tão difícil caminho do meio, procurando fomentar o pensamento crítico, o livre-arbítrio e a abertura de coração e consciência. Partilho o que ressoa procurando encorajar e propagar a transmissão de informação pertinente e valores construtivos e compassivos.

Posted on Janeiro 19, 2016, in Ideias para o País and tagged , . Bookmark the permalink. Deixe um comentário.

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