Isolofobia: Orgulhosamente juntos
Há dois dias ouvi uma comunicação do nosso primeiro ministro, relativa à adesão da Guiné Equatorial à CPLP, que me transtornou bastante pois representa bem a génese de uma certa forma de estar portuguesa: a isolofobia
Nem vou aqui discutir se a Guiné Equatorial deve ou não deve aceder à CPLP, se lá estivemos uns séculos provavelmente fizemos estragos suficientes para que nos mereçam essa consideração, até porque a bem dizer já temos na caderneta uns quantos cromos raros de oligarquias e ditaduras mais ou menos disfarçadas. É um género de Karma e por outro lado acredito que os bons valores se passam pela convivência condicionada e não pela ostracização. Desde que seja a democracia a contaminar a ditadura e não o contrário parece-me bem.
Voltando ao ponto de partida, que trauma será este que demonstramos continuamente, o de não querermos ficar só e isolados mesmo que em defesa de valores legítimos e íntegros? Desde empresários, banqueiros e investidores que embarcam juntos em esquemas obscuros de alta rentabilidade para não ficarem sozinhos com os instrumentos financeiros de média e baixa rentabilidade, políticos que se anulam para manter a paz e o grupo unido evitando uma liderança isolada, no mundo laboral e autárquico proliferam nomeações para criar um ambiente de trabalho mais coeso e acolhedor afastando a solidão, e por fim até os comuns cidadãos que compactuam com pequenas trafulhices, não porque concordem com a sua justiça mas sim porque todos os outros o fazem e não o fazer é ser estúpido, sozinho.
Ironicamente na ponta oposta temos homens capazes de assumir as culpas sozinhos, mesmo que existam muitos outros culpados com quem andaram de mãos dadas. Julgo que este mecanismo de convicção própria, plena, independente e sobretudo pessoal e intransmissível só é despoletada por um complexo processo que conduz ao “tenho quase tudo perdido… resta-me apenas lucrar com o evitar da perdição de outros, assumindo as culpas integralmente e só”.
Num passado não muito distante o “orgulhosamente sós” foi um lema de regime mas também uma forma de estar de muitos portugueses que de forma quase isolada enfrentavam o regime em pequenas insurgências pessoais, que cumpriam solitária por sozinhos desafiarem o sistema, que tomavam a decisão de contra tudo e contra todos desertar de guerras ultra-marinas que não lhes faziam sentido. Apesar da conotação negativa que foi dada a essa expressão, pelo seu uso em discurso de Salazar, a verdade é que estar orgulhosamente só é uma característica essencial para despoletar grandes mudanças de forma eticamente admirável.
Como seu expoente máximo temos Ghandi e Mandela que a partir da sua recusa pessoal, em aceitar o sistema vingente, geraram movimentos de multidões imparáveis. E tem uma tal força que a sua demonstração pública sem pudor, mesmo que a fundo perdido, é capaz de inspirar gerações futuras a lutar pelos seus ideais de justiça.
Ontem Cavaco Silva e Pedro Passos Coelho poderão ter caído numa armadilha diplomática, quando Obiang irrompeu pela sala como membro efectivo da CPLP antes de qualquer discussão e votação que o oficializasse, ficarão nessa fotografia incomóda cuja imagem é indelével. Só lhes ficaria bem compensar a situação erguendo a sua voz, a voz de Portugal, contra toda e qualquer situação de violação da democracia dos direitos humanos por parte do novo e de qualquer dos membros da CPLP.
Chamem-me fascista, chamem-me antiquado, mas admito preferir sentir fazer parte de um Portugal ostensivo de um incómodo “Orgulhosamente Sós!” do que de um resignado e submisso “…orgulhosamente…juntos…”
Posted on Julho 24, 2014, in Mentalidade Tuga. Bookmark the permalink. 1 Comentário.
Pois……
Para tal é preciso uma cultiura de coragem, difícil de encontrar onde se cultiva a subserviência e lambecuzismo! para não dizer abertamente cobardia!